Liturgia Dominical – † 1º Domingo da Quaresma

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† 1º Domingo da Quaresma roxo – 1ª classe.

« Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás. » Ev.

Intróito / INVOCÁBIT ME — Salmo 90. 15-16, 1

O Intróito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia.

Canto solene de entrada, o Introito como que enuncia o tema geral da Missa ou solenidade do dia. Compunha-se antigamente duma antífona e de um salmo, que se cantava por inteiro. Hoje o salmo está reduzido a um só versículo.

Invocábit me, et ego exáudiam eum: erípiam eum, et glorificábo eum: longitúdine diérum adimplébo eum. Ps. Qui hábitat in adiutório Altíssimi, in protectióne Dei cæli commorábitur. ℣. Glória Patri.

Invocar-Me-á, e Eu ouvilo-ei: Salvá-lo-ei e glorificá-lo-ei, e enchê-lo-ei de largos dias. Sl. O que habita à sombra do Altíssimo descansará sob a proteção do Deus dos Céus. ℣. Glória ao Pai.

Oração (Colecta)

Pedimos ao Senhor aquilo de que precisamos nesse dia para a nossa salvação.

Numa breve oração, o celebrante resume e apresenta a Deus os votos de toda a assembleia, votos estes sugeridos pelo mistério ou solenidade do dia.

Deus, qui Ecclésiam tuam ánnua quadragesimáli observatióne puríficas: præsta famíliæ tuæ; ut, quod a te obtinére abstinéndo nítitur, hoc bonis opéribus exsequátur. Per Dominum nostrum Iesum Christum.

Ó Deus, que purificais anualmente a vossa Igreja com a observância do jejum quaresmal, fazei que a vossa família alcance, por boas obras, o que porfia merecer pela abstinência. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Epístola de São Paulo Apóstolo aos Coríntios 2. 6.1-10

Exortação premente a que não recebamos em vão a graça de Deus. Ao dirigir-no-la, S. Paulo descreve o seu combate pessoal e mostra que a vitória de Cristo se manifesta numa vida como a sua.

Fratres: Exhortámur vos, ne in vácuum grátiam Dei recipiátis. Ait enim: Témpore accépto exaudívi te, et in die salútis adiúvi te. Ecce, nunc tempus acceptábile, ecce, nunc dies salútis. Némini dantes ullam offensiónem, ut non vituperétur ministérium nostrum: sed in ómnibus exhibeámus nosmetípsos sicut Dei minístros, in multa patiéntia, in tribulatiónibus, in necessitátibus, in angústiis, in plagis, in carcéribus, in seditiónibus, in labóribus, in vigíliis, in ieiúniis, in castitáte, in sciéntia, in longanimitáte, in suavitáte, in Spíritu Sancto, in caritáte non ficta, in verbo veritátis, in virtúte Dei, per arma iustítiæ a dextris et a sinístris: per glóriam et ignobilitátem: per infámiam et bonam famam: ut seductóres et veráces: sicut qui ignóti et cógniti: quasi moriéntes et ecce, vívimus: ut castigáti et non mortificáti: quasi tristes, semper autem gaudéntes: sicut egéntes, multos autem locupletántes: tamquam nihil habéntes et ómnia possidéntes.

Irmãos: 1Exortamo-vos a que não recebais em vão a graça de Deus. 2Diz Ele, com efeito: Ouvi-te no tempo favorável, e ajudei-te no dia da salvação: O tempo favorável, é agora; é agora o dia da salvação1. 3A ninguém sejamos ocasião de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado; 4ao contrário, afirmemo-nos, em tudo, como ministros de Deus, mostrando toda a paciência – nas tribulações, nas necessidades, nas angústias, 5nos açoites, nas prisões, nas sedições, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns; 6com a castidade, com a ciência, com a longanimidade, com a mansidão, com o Espírito Santo, com uma caridade não fingida, 7com a palavra da verdade, com o poder de Deus, com as armas ofensivas e defensivas da justiça, 8entre a glória e a ignomínia, entre a boa e a má reputação; tidos por impostores apesar de verazes; como pessoas obscuras, embora bem conhecidas; 9como gente a morrer, estando bem vivos; como castigados, mas sem estar à morte; 10como tristes, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos: como não tendo nada, mas possuindo tudo.

1 Isaías 49.8

Gradual / Salmo 90. 11-12

Cantos, por via de regra, tirados dos Salmos e que traduzem os devotos afetos produzidos na alma pela leitura da Epístola ou sugeridos pelo Mistério do dia.

Angelis suis Deus mandávit de te, ut custódiant te in ómnibus viis tuis. ℣. In mánibus portábunt te, ne umquam offéndas ad lápidem pedem tuum.

O Senhor incumbiu os seus anjos de velar por ti, e que te guardassem em todos os teus caminhos. ℣. Levar-te-ão em suas mãos, para que não tropeces.

Tracto / Salmo 90. 1-7, 11-16

Cântico pleno de certezas. Aquele que confia no Senhor, nada tem a recear.

Qui hábitat in adiutório Altíssimi, in protectióne Dei cæli commorántur. ℣. Dicet Dómino: Suscéptor meus es tu et refúgium meum: Deus meus, sperábo in eum. ℣. Quóniam ipse liberávit me de láqueo venántium et a verbo áspero. ℣. Scápulis suis obumbrábit tibi, et sub pennis eius sperábis. ℣. Scuto circúmdabit te véritas eius: non timébis a timóre noctúrno. ℣. A sagítta volánte per diem, a negótio perambulánte in ténebris, a ruína et dæmónio meridiáno. ℣. Cadent a látere tuo mille, et decem mília a dextris tuis: tibi autem non appropinquábit. ℣. Quóniam Angelis suis mandávit de te, ut custódiant te in ómnibus viis tuis. ℣. In mánibus portábunt te, ne umquam offéndas ad lápidem pedem tuum. ℣. Super áspidem et basilíscum ambulábis, et conculcábis leónem et dracónem. ℣. Quóniam in me sperávit, liberábo eum: prótegam eum, quóniam cognóvit nomen meum. ℣. Invocábit me, et ego exáudiam eum: cum ipso sum in tribulatióne. ℣. Erípiam eum et glorificábo eum: longitúdine diérum adimplébo eum, et osténdam illi salutáre meum.

O que habita à sombra do Altíssimo, na proteção do Deus do Céu descansará. ℣. Dirá ao Senhor: Tu és o meu defensor e o meu refúgio; o meu Deus em Quem esperei. ℣. Porque Ele livrou-me do laço dos caçadores e das palavras venenosas. ℣. Cobrir-te-á com as suas asas, e debaixo das suas penas viverás na esperança. ℣. A sua verdade cercar-te-á como um escudo, e não recearás os terrores da noite. ℣. Nem a seta que voa de dia, nem o inimigo que anda nas trevas, nem os assaltos do demônio do meio-dia. ℣. Cairão mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; a ti, porém, nada te atingirá. ℣. Porque Ele incumbiu os seus anjos de velar por ti, e que te guardassem em todos os teus caminhos. ℣. Eles te levarão nas suas mãos, para que não tropeces nas pedras do caminho. ℣. Sobre o àspide e o basilisco andarás, e calcarás aos pés o leão e o dragão. ℣. Porque esperou em Mim, livrá-lo-ei; protegê-lo-ei, porque conheceu o meu Nome. ℣. Clamará a Mim, e Eu ouvi-lo-ei: com ele estou na tribulação. ℣. Livrá-lo-ei, e glorificá-lo-ei: enchê-lo-ei de dias, e mostrar-lhe-ei a minha salvação.

Evangelho segundo São Mateus 4. 1-11

« Não é indigno do nosso Redentor permitir que fosse tentado, Ele que viera entregar-se à morte. Convinha, porém, que, pelas suas tentações, triunfasse das nossas, pois que viera com sua morte vencer a nossa » (S. Gregório, em matinas).

In illo témpore: Ductus est Iesus in desértum a Spíritu, ut tentarétur a diábolo. Et cum ieiunásset quadragínta diébus et quadragínta nóctibus, postea esúriit. Et accédens tentátor, dixit ei: Si Fílius Dei es, dic, ut lápides isti panes fiant. Qui respóndens, dixit: Scriptum est: Non in solo pane vivit homo, sed in omni verbo, quod procédit de ore Dei. Tunc assúmpsit eum diábolus in sanctam civitátem, et státuit eum super pinnáculum templi, et dixit ei: Si Fílius Dei es, mitte te deórsum. Scriptum est enim: Quia Angelis suis mandávit de te, et in mánibus tollent te, ne forte offéndas ad lápidem pedem tuum. Ait illi Iesus: Rursum scriptum est: Non tentábis Dóminum, Deum tuum. Iterum assúmpsit eum diábolus in montem excélsum valde: et ostendit ei ómnia regna mundi et glóriam eórum, et dixit ei: Hæc ómnia tibi dabo, si cadens adoráveris me. Tunc dicit ei Iesus: Vade, Sátana; scriptum est enim: Dóminum, Deum tuum, adorábis, et illi soli sérvies. Tunc relíquit eum diábolus: et ecce, Angeli accessérunt et ministrábant ei.

Naquele tempo: 1Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo demônio. 2Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. 3Aproximando-se, então, o tentador, disse-Lhe: Se és Filho de Deus, dize a estas pedras que se convertam em pão. 4Ele, porém, respondendo disse: Está escrito: O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus2. 5Então o demônio transportou-O à cidade santa; e, pondo-O sobre o pináculo do templo, 6disse-lhe: Se és filho de Deus, lança-te daqui abaixo. Porque está escrito: Incumbiu os seus anjos de velarem por ti: eles te tomarão em suas mãos, para que não tropeces nas pedras do caminho3. 7Jesus respondeu-lhe: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus4. 8De novo o demônio o transportou a um monte muito alto, e lhe fez ver todos os reinos do mundo, e a sua magnificência. 9E disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. 10Então Jesus disse-lhe: Vai-te, Satanás, porque está escrito: O Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás5. 11Então o demônio deixou-o: e eis que os anjos se aproximaram, e o serviam.

2 Deuteronômio 8.9.

3 Salmo 90. 11-12.

4 Deuteronômio 6.16.

5 Deuteronômio 6.13.

CREDO…

Concluímos a Ante-Missa com essa profissão de fé.

Breve compêndio das verdades cristãs e Símbolo da fé católica. Com a Igreja, afirmemo-las publicamente e renovemos a profissão de fé que fizemos no Batismo.

Ofertório / Salmo 90. 4-5

Com o Ofertório, começa a segunda parte da Missa ou Sacrifício propriamente dito. Três elementos o constituíam antigamente: apresentação das oferendas, canto de procissão, oração sobre as oblatas.

Scápulis suis obumbrábit tibi Dóminus, et sub pennis eius sperábis: scuto circúmdabit te véritas eius.

O Senhor cobrir-te-á com as suas asas, e debaixo das suas penas viverás na esperança. A sua verdade cercar-te-á como um escudo.

Secreta

É a antiga « oração sobre as oblatas », ponto de ligação entre o Ofertório e o Cânon.

É neste último que se faz propriamente a oblação do sacrifício.

Sacrifícium quadragesimális inítii sollémniter immolámus, te, Dómine, deprecántes: ut, cum epulárum restrictióne carnálium, a noxiis quoque voluptátibus lemperémus. Per Dominum nostrum Iesum Christum.

Oferecendo-Vos solenemente, Senhor, este sacrifício no princípio da Quaresma, humildemente Vos pedimos que, pela restrição dos alimentos corporais nos leveis a não cair nos prazeres pecaminosos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Communio / Salmo 90. 4-5

Alternando com o canto dum salmo, acompanhava (e ainda hoje pode acompanhar) a comunhão dos fiéis.

Nas Missas cantadas, se canta, enquanto o sacerdote toma as abluções e recita as orações seguintes em que se pedem para a alma os frutos da Comunhão.

Scápulis suis obumbrábit tibi Dóminus, et sub pennis eius sperábis: scuto circúmdabit te véritas eius.

O Senhor cobrir-te-á com as suas asas, e debaixo das suas penas viverás na esperança. A sua verdade cercar-te-á como um escudo.

Postcommunio

Súplica a Deus para que nos conceda os frutos do Sacrifício.

Qui nos, Dómine, sacraménti libátio sancta restáuret: et a vetustáte purgátos, in mystérii salutáris fáciat transíre consórtium. Per Dominum nostrum Iesum Christum

Fazei, Senhor, que este divino sacramento nos renove as forças, e, purificando-nos dos erros do homem velho, nos faça entrar na posse do mistério da salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Meditação

O grande combate

Ó Jesus retiro-me conVosco ao deserto; ensinai-me como devo lutar contra a tríplice concupiscência: da carne, do orgulho, da avareza.

1 – Ao começar hoje o tempo estritamente quaresmal, a Igreja convida-nos para a grande luta, luta decisiva contra o pecado, que nos deve conduzir à ressurreição pascal. O modelo é Jesus que, embora isento do fogo da concupiscência, quis por nós, ser tentado pelo demônio, para « se compadecer das nossas enfermidades » (Hebr. 4, 15).

Depois de quarenta dias de jejum rigoroso, quando sente o estímulo da fome, Jesus é tentado por Satanás a converter as pedras em pães. Não é possível abraçar um regime de séria penitência ou mortificação, sem experimentar os incômodos que dele derivam; mas então é o momento de resistir às vozes insinuantes que nos aconselham maior condescendência para com as exigências físicas, respondendo com Jesus: « Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus » (Mt. 4, 1-11). A vida do homem, depende muito mais da vontade de Deus do que do alimento material; só quem estiver convencido desta verdade, terá coragem para se sobrepor às privações, confiando na Divina Providência para o seu sustento.

Jesus foi depois tentado de orgulho: « Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo… e os seus anjos te tomarão nas mãos ». Um milagre semelhante teria atraído a admiração e o entusiasmo do povo, mas Jesus sabe que o Pai escolheu para Ele outro caminho bem diferente: não triunfos, mas humilhações, cruz, morte; não quer sair deste caminho e repele resolutamente a orgulhosa proposta. O melhor meio para vencer as tentações de orgulho e vaidade é escolher expressamente o que nos humilha e nos faz desaparecer aos olhos dos outros.

O demônio volta de novo à carga e tenta Jesus de avareza: « Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares », mas Ele responde: « O Senhor teu Deus adorarás e a Ele só servirás ». Quem tem o coração fortemente ancorado em Deus, nunca se deixará desviar do Seu serviço pela sedução e cobiça dos bens terrenos. Mas se falta esta forte adesão a Deus, quantas vezes a tentação de avareza conseguirá fazer desviar mesmo aqueles que, por vocação particular, deveriam servir a Deus só!

2 – Jesus foi tentado porque quis. Nós somos tentados sem o querer e até muitas vezes contra a nossa vontade. A tentação de Jesus foi puramente exterior, não achando n’Ele ressonância alguma; em nós, pelo contrário, a natureza, ferida pela tríplice concupiscência da carne, do orgulho e da avareza, não só pode ser facilmente presa dos assaltos do demônio, mas ela mesma é fonte de múltiplas tentações. Não podemos, portanto, viver sem tentações e a nossa virtude não consiste em estar isento delas, mas em saber vencê-las. É uma luta à qual ninguém se pode subtrair, e Deus quis que ela fosse para nós o penhor da vida eterna: « Bem-aventurado o homem que sofre a tentação porque, depois que tiver sido provado, receberá a coroa da vida ». (Tgo. 1, 12).

Aprendamos de Jesus como nos devemos comportar nas tentações. Acima de tudo devemos ter uma grande confiança em Deus. Jesus não procurou remediar a Sua fome, não quis impor-Se aos homens por meio de um ruidoso milagre, nem aceitou reinos ou riquezas, porque, tendo plena confiança em Seu Pai, tudo tinha totalmente confiado aos Seus cuidados — a Sua vida, a Sua missão e a Sua glória. Quem confia plenamente em Deus e está certo da Sua Divina Providência, não se deixará facilmente atrair pelas vãs lisonjas do demônio, do mundo e da carne, pois sabe que só Deus lhe pode dar o verdadeiro bem, a verdadeira felicidade.

Além disso, devemos cultivar a confiança em Deus no momento da tentação. Se Deus permite que sejamos tentados, não permite, porém, que o sejamos acima das nossas forças e em cada tentação dá-nos uma graça atual suficiente para a vencer. Por isso, em vez de nos deixarmos perturbar pela violência da luta, aguardemos confiadamente a graça que Deus nos oferece e procuremos fazê-la nossa, mediante a oração humilde e confiante.

Extraído do Livro Intimidade Divina­ — P. Gabriel de Santa Maria Madalena O.C.D. Segunda edição (Traduzida da 12ª edição italiana) — 1967.