Por que seguir a vocação? (II)

Segundo motivo.

Por Pe. Gaspar S. C. Pelegrini

Devo seguir a vocação a que Deus me chama porque da minha correspondência ou não a ela pode depender a felicidade e até mesmo a salvação de muitas pessoas.

A Igreja, segundo a Teologia de São Paulo, é um corpo com muitos membros. Tal como no corpo, os membros da Igreja existem em função do todo. Cada membro tem sua função própria, mas esta função é para o bem do corpo.

Traduzindo, podemos dizer que a função de cada pessoa na Igreja é determinada pela sua vocação. O membro não escolhe sua função. É Deus que nos chama.

Sendo assim, quando falamos de corpo com membros que tem sua liberdade, e portanto, poderiam querer trocar de função ou não fazer nada, o Corpo pode ressentir. Alguns membros não conseguirão “funcionar” porque dependem de outros que estão parados.

Deus, em geral não age diretamente sobre suas criaturas. Gosta de se servir de umas para agir sobre outras. Também no plano espiritual vemos que isto acontece. Deus poderia ter-nos dado diretamente o perdão dos pecados, a graça, poderia dirigir-nos diretamente. Mas  não. Ele quer se servir de outros. Para preparar o povo à vinda do Messias, Deus quis se servir de S. João Batista, para converter a tantos pagãos, quis servir-se de S. Paulo e de todos os Apóstolos. Ainda hoje, para santificar e salvar as almas, Deus quer se servir de outras pessoas. Estas pessoas são, sobretudo, os sacerdotes. Deus confia a salvação de muitas almas a esta pessoa escolhida por Ele e dotada de todas as graças necessárias para ser fiel a esta escolha e para conseguir a salvação das almas que lhe forem confiadas. O sacerdote no corpo da Igreja é membro que chamaríamos vital. Sem ele, o corpo não pode viver.

Mas esta pessoa escolhida por Deus, por causa do mistério da liberdade humana, pode não seguir este chamado, pode não se dedicar a salvar as almas, pode dizer não ao apelo de Deus.

E daí pode vir muitas consequências:

Que será então das pessoas que dependeria destes sacerdote para conseguir os meios de santificação e salvação? E os batizados, e as confissões, as Santas?

Claro que Deus nunca está limitado por suas criaturas. Mas é verdade também que Ele respeita o que Ele mesmo estabeleceu.

Que teria sido, por exemplo, de Ars se S. João Maria Vianney não tivesse sido padre?

Que teria sido da juventude se S. João Bosco tivesse preferido continuar sua vidinha de camponês?

Que teria sido Brasil se o Padre Anchieta não tivesse sido padre?

Que seria de nós se o padre que nos batizou, nos ouviu tantas vezes em confissão, etc. tivesse dito “não” ao apelo de Deus?

Quantas almas podem ter se condenado (palavra forte) porque não tiveram um sacerdote que as ajudasse e dirigisse!

Ah! Se nossos jovens pensassem nisso! Se eles desligassem um pouco a televisão, o som, saíssem um pouco da internet, esquecessem um pouco certas amizades a que se entregam com verdadeira paixão, e parassem em pouco e pensassem que são membros da Igreja, que a Igreja conta com eles, que muitas pessoas contam com sua entrega generosa aos planos de Deus.

Perdoem a linguagem um pouco fora de moda, mas quando no dia do juízo, Deus pedir contas da nossa vida, do uso que fizemos dos dons que Ele nos deu, que responderá ao Senhor um jovem que recebeu dEde a graça da vocação e não foi fiel a ela? Que responderá?

Que os jovens se compenetrem da importância de seguir a vocação a que Deus os chama.

Mas para corresponder à vocação, primeiro é preciso conhecê-la, e, infelizmente, muitos jovens nem sabem o que é vocação, ou fazem dela uma falsa idéia, e assim, já desde o começo, se recusam a seguí-la.

Um autor que escreveu a vida do Padre José de Anchieta, ao narrar a vocação do grande Apóstolo do Brasil, faz a seguinte reflexão: “A vocação é coisa importantíssima na vida; dela em grande parte depende nosso destino eterno, como também a felicidade que legitimamente podemos esperar aqui na terra. Por isso, todos os Santos se aplicaram com extremo cuidado em consultar a Deus, na meditação e na oração, para bem conhecer sua vontade.

A maior parte dos homens, porém, trata de tal assunto com culposa negligência, e segue na escolha do estado, o próprio capricho, ou o dos pais, deixando-se conduzir pelas circunstâncias ou pelos motivos indignos de um cristão.

Como esperar depois que Deus abençoe uma carreira na qual se entrou sem O consultar? Como esperar que Ele se interesse por um percurso empreendido à margem dEle? Como espantar-se com as frustrações e os remorsos tardios e inúteis, de pessoas que pouco se importaram em procurar conhecer os desígnios que Deus tinha com relação a elas?” (Charles Sainte-Foy, Anchieta, o Santo do Brasil)

Todo jovem, digamo-lo mais uma vez, antes de se decidir a abraçar tal ou tal carreira, antes de resolver se casar, tem que se colocar diante de Deus e perguntar-se com seriedade: “Será que Deus não me chama para o sacerdócio? Será que Jesus não me convida para a vida consagrada, um ideal mais alto? Senhor, que quereis que eu faça?”

Mas, como, em geral, não escutamos imediatamente uma voz do Céu que nos indica o cominho a seguir, o jovem deve rezar, pedir ajuda de Deus, consultar um bom sacerdote, e, junto com ele, examinar o problema da vocação. Se o jovem usa destes meios, Deus vai manifestar Sua Vontade com mais clareza.

O jovem não deve resolver sozinho, ou com qualquer pessoa este assunto, pois o demônio,  fará de tudo para tirar de sua cabeça a idéia de ser padre e, para conseguir isto, ele usará de todos os meios que puder, e um dos meios muito fáceis para o demônio é servir-se de alguém que dê maus conselhos ao jovem, de um falso amigo, de um pai mundano, de uma moça mal intencionada, etc.

Jovem, pense, reze, peça a ajuda de Nossa Senhora, consulte um padre de confiança. Este assunto é muito sério. Quem sabe se Deus quer se servir de você para a salvação de muitas almas? E quem sabe se, da correspondência ao chamado de Deus, pode depender a sua própria salvação?

(Do livro “A Vocação”)